Paulo Leminski e a música: o lado menos conhecido de um poeta multifacetado

Além da literatura, o poeta curitibano compôs canções como “Verdura”, “Não Mexa Comigo” e “Se Houver Céu”, mantidas vivas por artistas e pela curadoria de sua filha Estrela

Quando se pensa em Paulo Leminski, a primeira imagem costuma ser a do poeta experimental e inovador. Menos conhecido, porém, é o compositor que escreveu mais de 100 canções, gravadas por nomes como Caetano Veloso, Itamar Assumpção, Ney Matogrosso, Paulinho Boca de Cantor e Moraes Moreira. Esse repertório transita entre samba, MPB e ritmos modernos, revelando uma faceta complementar da criatividade de Leminski.

Entre suas obras mais lembradas estão“Verdura”, lançada em 1981 no álbum Outras Palavras, de Caetano Veloso, “Promessas Demais” (em parceria com Moraes Moreira e Zeca Barreto), “Luzes” (gravada por Arnaldo Antunes) e “Dor Elegante” (com Itamar Assumpção), sempre explorando a fusão entre poesia e música popular.

Depois da morte de Leminski em 1989, quem assumiu a missão de preservar essa obra musical foi sua filha Estrela Leminski. Inspirada pela diversidade artística do pai, ela organizou um disco duplo intitulado Leminskanções, lançado em 2014, reunindo composições e parcerias do poeta com participações de Zeca Baleiro, Ná Ozzetti e Bernardo Bravo. Estrela lembra que muitas pessoas não sabiam que Paulo era compositor e que, nos anos 1980, sua poesia era difundida justamente pelas gravações musicais. Ao montar o show que originou o projeto, ela percebeu que havia dezenas de músicas pouco conhecidas e decidiu separar o repertório em um CD de letras e músicas apenas de Leminski e outro com parcerias.

A compositora também integra a curadoria da exposição Múltiplo Leminski, que organiza o acervo do pai e apresenta suas diferentes facetas ao público. Segundo Estrela, a carreira de compositor do poeta correu paralelamente e tão intensamente quanto a literária; por isso, iniciativas como o disco e as exposições são fundamentais para lembrar que a obra de Leminski não se limita às páginas de poesia.

Com projetos como o Festival Paulo Leminski, em Curitiba, e o lançamento de songbooks e regravações, canções do artista continuam a ser apresentadas e reinterpretadas. Assim, o lado musical do poeta ganha novo fôlego, garantindo que sua inventividade permaneça viva no imaginário cultural brasileiro.