Se a Jovem Guarda nos anos 1960 já adaptava músicas de fora para a língua portuguesa, foi no Nordeste que essa prática atingiu seu auge. A partir da década de 1990, bandas de forró eletrônico e romantizado começaram a transformar hits globais em verdadeiros hinos regionais, com letras reescritas, sanfona e sotaque nordestino. Vimos uma bela lista na ótima newsletter Cajueira e trazemos aqui encontros curiosos entre pop internacional e forró:
“Without You” (Mariah Carey) → “Paulinha” (Calcinha Preta)
A balada imortalizada por Mariah Carey ganhou sotaque sergipano e tornou‑se tributo à cantora Paulinha Abelha. A banda Calcinha Preta adaptou a letra para contar a história de uma fã que morreu de saudade; hoje, a faixa é mais conhecida no Nordeste do que a original. O portal iBahia lembra que “Paulinha” é uma versão de “Without You” e que a música virou homenagem após a morte de Paulinha Abelha.
“Because of You” (Kelly Clarkson) → “Meu Anjo Azul” (Banda Anjo Azul)
O sucesso melancólico de Kelly Clarkson virou declaração apaixonada na voz da Banda Anjo Azul. O site O Imparcial registra que a banda transformou “Because of You” em “Meu Anjo Azul” e que a canção, lançada em 2004, ganhou força nos bailes de forró. A letra fala de um amor que trouxe paz e alegria, dando nova vida à balada pop.
“Umbrella” (Rihanna) → “Se Não Valorizar” (Aviões do Forró)
Quem diria que o hit de Rihanna e Jay‑Z viraria forró? Segundo o banco de dados musical WhoSampled, “Se Não Valorizar” de Aviões do Forró é uma versão de “Umbrella”. Com sanfona e swing nordestino, a vocalista Solange Almeida transformou o refrão “under my umbrella” em um conselho sobre reciprocidade nos relacionamentos. A faixa, lançada em 2009, virou hino da fase de ouro do grupo cearense.
“Bleeding Heart” (Angra) → “Agora Estou Sofrendo” (Calcinha Preta)
A balada do heavy metal brasileiro Angra ganhou vida nova nas vozes de Daniel Diau e Silvânia Aquino. Na mesma reportagem da iBahia, “Agora Estou Sofrendo” é citada como versão em português de “Bleeding Heart”. A união improvável de forró eletrônico com metal chamou tanta atenção que, em 2023, o ex-vocalista do Angra, Edu Falaschi, dividiu o palco com a Calcinha Preta para cantar a música — provando que os dois mundos podem dialogar.
“Ascolta il Tuo Cuore” (Laura Pausini) → “Planeta de Cores” (Forrozão Tropikália)
Do pop italiano ao forró nordestino, a canção transformou‑se em hino LGBTQIA+ regional. Forrozão Tropikália reescreveu a letra para celebrar o orgulho de ser quem se é; anos depois, Pabllo Vittar regravou “Planeta de Cores” com Mara Pavanelly, ampliando seu alcance.
“Come as You Are” (Nirvana) → “Liga o Som” (Forró Estourado)
Antes de tocar, o vocalista do Forró Estourado avisa: “Aqui ninguém copia, a gente faz”. E eles fazem mesmo: a releitura do clássico grunge de Nirvana incorpora sanfona e percussão eletrônica, mostrando que o forró recria o repertório global com liberdade e frescor, sem se limitar a traduções literais.
“You Are My Love” (Liverpool Express) → “Meu Grande Amor” (Forrozão Babyson)
O soft rock inglês virou forró romântico na voz do Forrozão Babyson. Para muitos nordestinos, a versão brasileira é mais conhecida que a original, prova de que a tropicalização de repertórios internacionais pode superar a fonte.
