Nascido em Salvador em 25 de abril de 1946, Péricles “Perinho” Albuquerque cresceu em um ambiente musical, mas sem formação acadêmica formal. Aprendeu tocando violão elétrico em bailes ainda adolescente, aos 16 anos, no grupo Carlito e seu Conjunto. Esse início intuitivo já revelava a criatividade que o levaria a se tornar um dos arranjadores e produtores mais requisitados da década de 1970.
Irmão do baixista Moacir Albuquerque (1945–2000), Perinho logo mergulhou na cena efervescente da música baiana, conectando-se a jovens talentos que viriam a redefinir a MPB. Foi nesse contexto que conheceu Caetano Veloso e Maria Bethânia, tornando-se presença constante nas fichas técnicas dos discos que ajudaram a projetar a música brasileira para o mundo.
Apesar da discrição — quase não há fotos suas disponíveis na internet —, seu nome está associado a álbuns históricos. Foi ele quem deu a direção musical ao antológico Pérola Negra (1973), estreia de Luiz Melodia, considerado até hoje uma das obras-primas da música brasileira. Com Bethânia, foi responsável por arranjos decisivos em Drama – Anjo Exterminado (1972), produziu Álibi (1978), o primeiro grande sucesso comercial da cantora, e seguiu com Mel (1979).
Sua atuação também deixou marcas na discografia de Gal Costa, ao assinar arranjos de Gal Canta Caymmi (1976) e dirigir a produção de Água Viva (1978). Com Caetano Veloso, registrou sua guitarra em Qualquer Coisa (1975). E com Chico Buarque, participou de Sinal Fechado (1974), consolidando-se como elo criativo entre os maiores nomes do período.
Mesmo sem ter frequentado escolas de música, Perinho desenvolveu um estilo de arranjo sofisticado, intuitivo e profundamente conectado à canção brasileira. Essa combinação de intuição e sensibilidade fez dele uma espécie de arquiteto sonoro da MPB nos anos 1970.
Curiosamente, após marcar época, Perinho se afastou gradualmente da indústria fonográfica e passou a se dedicar à construção de barcos e lanchas na Bahia, mantendo-se distante dos holofotes. Ainda assim, seu legado permanece em cada disco em que seu nome aparece, mesmo que discretamente.
Em 15 de agosto de 2025, Perinho faleceu em Salvador, vítima de complicações após um AVC seguido de infarto. Ao se despedir, Caetano Veloso sintetizou sua importância ao chamá-lo de “companheiro e guia musical”. Uma frase que resume o lugar de Perinho: um artista que, mesmo longe das luzes do palco, ajudou a iluminar o caminho da MPB.