Paira continua o trabalho de ser uma novidade diferente na cena com o EP02

A dupla mineira lança um segundo EP com mais potência e trazendo uma mistura de referências com cara de inovação

Em um mercado inflado de artistas querendo vender a novidade, é preciso garimpar para encontrar o que realmente há de novo. Paira, dupla mineira, é uma dessas tantas caras recentes do indie nacional que se propõe a fazer um som diferente. Desde o primeiro trabalho, o EP01, lançado em junho de 2024, André Pádua e Clara Borges buscaram construir uma identidade própria, mas foi com o lançamento de EP02 que a distinção deles se tornou mais evidente.

A dupla mistura o rock indie com beats de variações diversas da música eletrônica, chegando a um resultado muito original. As referências caminham pelo pós-punk, shoegaze, UK garage, drum n’ bass e as vertentes mais obscuras da cena indie contemporânea. Os nomes que os inspiram vão dos clássicos Kraftwerk e Daft Punk a figuras de nicho como Cap’n Jazz e American Football, e chegam até o funk brasiliense com o produtor Rensgo.

Toda essa miscelânea jogada no liquidificador resulta em um dos lançamentos mais empolgantes e despretensiosos de 2025. EP02 é a união de gostos particulares com a crueza da juventude ousada. Uma banda que começou agora não tem o que perder, então experimentar é o caminho para se encontrar. O que chama atenção é o fato de a Paira ter realmente descoberto algo único dentro da cena brasileira atual.

Com muitos sons — e alguns barulhos — a banda se apropria bem das referências que carrega. Tudo que a Paira toca tem a cara da Paira, e o EP02 é uma prova disso. Sonoramente distinto do primeiro, o trabalho parece dar continuidade a um amadurecimento artístico. Porém, ao mesmo tempo, mostra que o duo sabe ainda mais claramente o que quer fazer.

As músicas carregam a guitarra mais roqueira, o ritmo acelerado dos eletrônicos underground, mas há um jeito de unir tudo isso que faz parecer que a dupla está inventando a roda de algum modo. Mesmo com ideias próximas sendo experimentadas em outras partes do mundo, Paira surge como um sopro de novidade dentro do indie nacional.

O fato de trabalharem vários sons, aliado à boa produção do EP02, também cria uma atmosfera intensa. A impressão é que a banda transporta o ouvinte para dentro do estúdio, com músicas que impactam a cada reprodução. Um destaque é a pesada Ao Mar, que parece bater no peito quando tocada.

Se o EP é potente técnica e sonicamente, em sentimento também não fica para trás. A poesia cantada atinge a lírica e a música pavimenta esse caminho, fazendo com que a canção vá além da forma e alcance as emoções do público. A dupla se distingue por criar uma paisagem e um contexto sonoro em que a mensagem pode navegar com força.
Paira, portanto, se apresenta como uma novidade genuína dentro do cenário da música brasileira. O EP02 é mais um atestado disso. Em tempos em que as características do indie foram sendo absorvidas pela estética do pop, a dupla propõe novas e instigantes saídas para quem deseja ouvir coisas originais. Se a ideia é ser um hipster de plantão, a hora de começar a ouvir Paira é agora — porque quando a banda despontar como criadora de tendências, vai ser possível dizer: “Eu ouvi isso antes de virar moda”.