Laufey vem se consolidando como uma das principais vozes do jazz contemporâneo, capaz de dialogar com a tradição e ao mesmo tempo se tornar um fenômeno global para a geração Z. Seu novo álbum, A Matter of Time, lançado em agosto de 2025, confirma a artista como porta-voz de um gênero que, sob sua interpretação, se renova sem perder a essência. Se em Everything I Know About Love (2022) ela registrava o amadurecimento da juventude e em Bewitched (2023) mergulhava nos amores de uma geração, agora ela aprofunda temas de maior densidade emocional, refletindo vulnerabilidades e contradições pessoais.
Entre as faixas, Snow White surge como uma das mais impactantes do álbum, ao tratar de padrões de beleza e identidade com lirismo e coragem. O arranjo elegante dá espaço para uma interpretação carregada de honestidade, exemplificando o espírito deste trabalho: mais cru, mais pessoal e mais ousado. É nesse equilíbrio entre fragilidade e sofisticação que Laufey solidifica sua linguagem, criando uma estética que ecoa tanto nos salões de concerto quanto nas playlists digitais.
O disco também expõe o alcance de suas referências musicais. Ao beber da Bossa Nova e evocar o legado de álbuns de João Gilberto, Astrud Gilberto e Stan Getz, Laufey revisita a tradição com roupagem indie pop, como se criasse uma cápsula do tempo moldada para o TikTok. Arranjos orquestrais, violoncelos e harmonias jazzísticas convivem com melodias de apelo imediato, formando um repertório que circula entre o clássico e o contemporâneo. Essa capacidade de transformar linguagens em algo acessível para um público jovem é uma das chaves de sua ascensão meteórica.
O alcance de A Matter of Time se reflete também na recepção ao vivo. Em sua maior turnê até agora, a artista já vendeu mais de 250 mil ingressos, incluindo datas esgotadas em arenas históricas como o Madison Square Garden, em Nova York, e a Crypto.com Arena, em Los Angeles. Essa popularidade impressiona não apenas pelo número, mas pela forma como reafirma a viabilidade do jazz em espaços antes dominados por pop stars. No Brasil, sua estreia no Popload Festival foi uma das apresentações mais elogiadas do evento, confirmando seu magnetismo também junto ao público latino-americano.
A biografia de Laufey ajuda a explicar esse hibridismo. Criada entre Reykjavik e Washington, D.C., iniciou os estudos de piano e violoncelo na infância, aprofundou-se em música clássica e jazz na Berklee College of Music e estreou em 2021 com o EP Typical of Me. De lá para cá, acumulou mais de 5 bilhões de streams globais, certificados de platina, presença constante em rankings internacionais e prêmios que incluem o Grammy de Melhor Álbum de Pop Tradicional. Também foi reconhecida pela TIME como uma das Mulheres do Ano de 2025.
No palco e em estúdio, Laufey demonstra ser uma artista que sabe expandir fronteiras: já se apresentou no Hollywood Bowl, no Royal Albert Hall e no Radio City Music Hall; acompanhada por orquestras como a LA Phil e a Sinfônica Nacional dos EUA; e colaborou com nomes que vão de Norah Jones a beabadoobee. Esse trânsito entre universos reforça sua imagem como figura capaz de unir gerações, estilos e públicos distintos.
Ao lado disso, a artista também tem se posicionado como agente cultural. Em 2025, anunciou a criação da Laufey Foundation, dedicada a ampliar o acesso à educação musical para jovens, com apoio de grandes instituições e marcas. Esse gesto conecta seu sucesso global a uma missão de longo prazo: usar a visibilidade para democratizar a formação artística.
Com A Matter of Time, Laufey dá um passo decisivo para consolidar-se como uma das vozes mais relevantes da música atual. Sua arte funciona como um elo entre o jazz clássico e a estética digital, entre a introspecção íntima e a performance grandiosa. No fim, o álbum reafirma que, mais do que resgatar tradições, Laufey as reinventa para um público que consome música de forma veloz, mas que nela encontra profundidade, beleza e permanência.