Gilberto Gil sempre fez da canção um espaço de tradução das experiências mais profundas da vida. Na sessão inaugural do evento SP2B — São Paulo Beyond Business, no Auditório Ibirapuera, o cantor voltou a emocionar o público ao relembrar o sentido de uma de suas músicas mais simbólicas. Antes de tocar “Drão”, composta originalmente para sua ex-mulher Sandra Gadelha, Gil revelou que nos últimos anos passou a cantá-la para outra mulher fundamental em sua vida: a filha Preta Gil, falecida em 2023.
“Nas vezes em que tenho tocado essa música ultimamente, tenho cantado para ela. Nesses últimos anos, sempre para ela. Uma das meninas lá de casa, nossa querida Preta”, disse Gil, em uma declaração carregada de emoção.
O gesto amplia o significado de Drão, que já nasceu como uma canção de despedida e de transmutação da dor em beleza. Ao dedicar a música à memória da filha, Gil reforça como sua obra continua a ser um território de afeto, no qual a experiência pessoal se torna coletiva e ressoa com todos aqueles que também já transformaram luto em lembrança e saudade em celebração.
Mais do que uma performance musical, o momento foi um testemunho da forma como Gil, aos 82 anos, segue vivendo a canção como algo vivo, em constante transformação. Drão deixou de ser apenas um registro de uma fase de sua vida amorosa para se tornar também um hino íntimo à permanência do amor em suas múltiplas formas.