Quando o fracasso vira clássico: discos rejeitados que hoje moldam a cultura pop

Reportagem do Sonora mostra como álbuns inicialmente mal recebidos se transformaram em relíquias e inspiração para novas gerações

Na música, o sucesso imediato nunca é garantia de relevância duradoura. Como destacou Gabriel Sant’Ana no Sonora, existem álbuns que, ao serem lançados, são tratados como fracassos comerciais ou mal compreendidos pela crítica, mas que, com o tempo, acabam sendo redescobertos como obras-primas. Foi o caso de American Life (2003), de Madonna, duramente criticado na época por sua postura política e estética eletrônica sombria, e de Pinkerton (1996), do Weezer, considerado um erro antes de se tornar uma das grandes influências do rock alternativo e emo. O mesmo aconteceu com Bionic (2010), de Christina Aguilera, que antecipou tendências do pop eletrônico que só seriam amplamente aceitas anos depois.

No Brasil, histórias semelhantes aconteceram com Tim Maia Racional Vol. 1 e 2 (1975), ignorados no lançamento por sua ligação com a seita Universo em Desencanto, mas hoje valorizados como relíquias de vinil que chegam a custar milhares de reais. O mesmo vale para Lóki? (1974), de Arnaldo Baptista, e Bloco do Eu Sozinho (2001), do Los Hermanos, que na época foram considerados deslocados pelo mercado, mas acabaram se tornando referências obrigatórias para o pop alternativo nacional. Esses casos mostram como discos lançados “na hora errada” muitas vezes só encontram seu público anos depois.

Essas redescobertas provam que a música pode se sobrepor ao contexto e à lógica imediatista da indústria. O público, em vez de ser guiado por estratégias de marketing, encontra essas obras por conta própria, construindo uma relação afetiva mais profunda. É por isso que discos que fracassaram comercialmente no passado hoje moldam caminhos da cultura pop e são reconhecidos como parte essencial da história da música, tanto pela crítica quanto por artistas contemporâneos que os citam como inspiração.

E se o passado nos ensinou algo, é que alguns álbuns recentes podem seguir o mesmo destino. Entre eles, Chemtrails Over the Country Club (2021), de Lana Del Rey, que dividiu opiniões, mas já é apontado como referência estética; Solar Power (2021), de Lorde, inicialmente criticado por sua sonoridade minimalista, mas cada vez mais cultuado em fóruns e playlists. Assim como os clássicos de Madonna, Weezer ou Tim Maia, esses discos mostram que a música que hoje parece “fora de lugar” pode ser, na verdade, a trilha sonora do futuro.