Quatro anos depois de revisitar a obra de Arnaldo Antunes em Contato Imediato, a cantora e compositora Anna Ratto volta ao universo do artista paulistano com Vison Negro, álbum que será lançado em 11 de abril. O projeto, que inicialmente nasceria como um EP, cresceu ao ponto de se transformar em um trabalho robusto de dez faixas, entre cinco inéditas e cinco releituras. “No começo a ideia era complementar o Contato Imediato. Mas quando Arnaldo me mandou várias canções inéditas, não consegui escolher só uma. O EP virou disco”, contou a artista em entrevista.
O processo nasceu do palco. O primeiro álbum, feito apenas de releituras, não rendia tempo suficiente de show, e Anna foi acrescentando novas músicas de Arnaldo no repertório. A banda criou arranjos próprios, que ganharam corpo e personalidade até que o produtor e músico Kassin sugeriu registrar o material. Ao mesmo tempo, já com uma relação próxima com Arnaldo, Anna decidiu provocá-lo em busca de uma inédita que pudesse ser a cereja do bolo do projeto. “Ele mandou seis de cara, depois mais três. Era impossível escolher só uma. No fim, gravei cinco inéditas que costuraram muito bem com as releituras que eu já vinha fazendo”.
Entre essas novidades, está a faixa-título Vison Negro, um rock potente feito em parceria com Liminha e Paulo Miklos, que ecoa o peso das raízes punk de Antunes. Há também Bam Bam (com Céu e Hyldon), Não Temo — primeira composição conjunta de Anna com Arnaldo — e Todo dia e toda hora com você, balada assinada por Marcelo Jeneci, Betão Aguiar, Fefê e Junix, que se tornou o single de estreia e ganhou a participação especial de Fernanda Takai. As releituras também transitam por diferentes momentos da carreira do compositor, como Dança (com Marisa Monte), Lágrimas no mar, Se tudo pode acontecer, Sem você — parceria com Carlinhos Brown — e Um branco, um xis, um zero, gravada por Marisa e Pepeu Gomes no fim dos anos 1990.
Produzido por Liminha e Kassin, o álbum foi gravado nos estúdios Nas Nuvens e Marini, no Rio, e contou ainda com mixagem de Michael H. Brauer, engenheiro de som norte-americano que já trabalhou com nomes de peso da música internacional. Para Anna, a junção dos produtores deu ao trabalho a ousadia e o frescor necessários para ir além da homenagem: “Mesmo as releituras soam como novidade. Eu não considero esse disco um tributo, e sim um álbum de carreira, visceral, de banda”.
O dueto com Fernanda Takai nasceu de forma espontânea, a partir do frescor de um encontro recente nos bastidores de um festival. Ao receber a canção Todo dia e toda hora com você, Anna imaginou de imediato a voz da artista mineira ali: “Achei que era uma música que se ela recebesse, gravaria inteira. E foi lindo. A gente só abriu voz, timbrou naturalmente”.
Mais do que consolidar a relação artística com Antunes, Vison Negro reforçou para Anna a generosidade e a grandeza de quem sempre admirou. “Eu era fã e fiquei ainda mais fã depois de conhecê-lo. Ele é generoso, doce, uma flor de pessoa. Participar da história dele e tê-lo participando da minha é um presente”.
Sobre os próximos passos, a cantora prefere o mistério. Depois de dois mergulhos profundos na obra de Arnaldo, ela sinaliza que deve retomar também o lado autoral, mas sem descartar novas parcerias: “O futuro só a música vai dizer. Talvez eu volte a compor mais, talvez misture minhas canções com outras. Mas o Arnaldo vai ser sempre o compositor do meu coração. Esse trabalho me trouxe muita alegria, orgulho e honra”.