Apeles usa a simplicidade para transmitir as mensagens no disco Cru

O projeto musical de Eduardo Praça passeia pela carreira com regravações feitas da forma mais crua possível

Após uma curta estadia em Los Angeles em abril, Eduardo Praça, nome por trás do projeto musical Apeles, voltou para o Brasil com um álbum. Intitulado Cru, esse trabalho passou pelas etapas normais do lançamento e chegou aos ouvidos do público no dia 12 de agosto. O disco é uma compilação da própria carreira, mas carrega consigo uma característica chave: a simplicidade.

Gravado no White Noise, estúdio importante da cidade californiana, o disco revisita faixas como Vermelho, A Alegria dos Dias Dorme no Calor dos Teus Braços e Socorro e apresenta a inédita Cru (I Rise in Pieces). Porém, este é um lançamento que discute muito mais a forma do que a função. Afinal, nessas novas roupagens, Apeles dá mais impacto para o que está sendo dito nas letras.

O artista se cercou de instrumentos e equipamentos analógicos do estúdio e encontrou um som muito particular para o álbum. A sensação é de que o ouvinte está em um mesmo espaço vazio com o cantor. A voz é próxima, mas os ecos e efeitos dão uma dimensão grandiosa e ao mesmo tempo com o aspecto de uma demo.

Essa escolha sonora vai de encontro com o título do álbum. Está realmente tudo cru. São músicas lançadas entre 2017 e 2025 regravadas como se estivessem em essência. Assim que se torna perceptível a opção estética, fica claro que essa é a forma do músico voltar os ouvidos para o que está sendo dito nessas faixas ao longo da própria carreira.

Até a forma como o violão é tocado encaminha o ouvinte em direção à poesia cantada. Não há dedilhados, complexificações percussivas ou qualquer acompanhamento desnecessário. Tudo é pensado para que a melodia e o ritmo levem o público até a mensagem falada. O que potencializa a visão poética do cantor, que encontra uma forma bela de ser escutado de outra forma com as mesmas músicas.

Não seria, no entanto, uma crítica falar que este disco é como uma session um pouco mais rebuscada. Os sons captados de forma analógica e os trechos das gravações filmados em uma Super 8 ajudam mais na percepção do aspecto de algo pensado como sessão de estúdio. A diferença é que essas sessions são, na maioria das vezes, pensadas como um ao vivo. No caso de Cru, isso não é claro, mas também é bem possível de se adaptar essa tracklist para um show — o que seria até bastante interessante.

Ao mesmo tempo, mesmo que esse disco tenha sido apenas um extravaso de criatividade em uma viagem para os Estados Unidos, é um ponto de vista interessante para o trabalho lançado durante a trilogia de discos Rio do Tempo, Crux e ESTASIS. Cru pode ser um ponto final vulnerável em sentimento para um período histórico e musical de Apeles.

Uma última vez, o cantor revisita as músicas que fizeram o início do projeto solo dele. Na intenção de conduzir o público a pensar mais uma vez às críticas, se emocionar novamente com os amores e relembrar das sensações que rondam esse período de quase 10 anos que o projeto de Eduardo existe.

Cru lembra que, no final das contas, a arte é expressar sentimentos. A música pode tocar de diversas formas, e Apeles encontra apenas um jeito de realçar as palavras para que o público tenha um contato mais íntimo com as faixas que vieram do âmago de um sentimento próprio, mas que também pode ser universal. Afinal, nenhuma experiência é 100% individual.