A menos de um mês de seu show no line-up do The Town, Capital Inicial comemora os 25 anos do disco Acústico MTV: Capital Inicial com uma edição especial já disponível nas plataformas digitais de música. Além das 14 faixas presentes na versão de 2000, a banda trouxe dois achados especiais que não entraram na versão original.
“[As lost tapes] estavam perdidas no fundo de alguma gaveta há décadas. Eu lembrava vagamente que tínhamos gravado algumas canções a mais, mas não me lembrava mais quais eram. Na verdade, e com certeza, ninguém da banda lembrava. Quando fiquei sabendo que elas eram ‘1999’ e ‘Belos e Malditos’ fiquei surpreso e feliz. Surpreso porque ambas são muito especiais. ‘1999’ foi composta naquele ano, agora remoto. Porém a expressão ‘vamos nos divertir como se fosse 1999’ continua a fazer sentido”, conta Dinho Ouro Preto em nota compartilhada pela Sony Music Brasil.
Enquanto “1999”, uma composição que fala da incerteza do tempo e o medo do futuro, está presente no disco Atrás dos Olhos (1998), a segunda lost tape é um acústico de “Belos e Malditos”, composição rara entre Alvin L. e Renato Russo, presente no disco Todos os Lados (2001).
“É uma música com algumas referências a Scott Fitzgerald, compositor que gosto muito. E essa música também tem algumas estrofes escritas pelo Renato Russo, sim, numa rara parceria com o Capital. Mas, o mais especial são as gravações em si. Os arranjos são irresistíveis. As músicas ficaram muito boas, não sei por que ficaram de fora do lançamento na época. Mas, agora, anos depois, está sendo corrigido um engano de anos atrás. Tenho certeza de que nossos fãs vão gostar delas tanto quanto eu”, continua Ouro Preto em nota.
Suave é a noite dos belos e malditos: a história da inusitada parceria de Renato Russo e Capital Inicial
“Belos e Malditos” foi uma das composições que acudiu o Capital Inicial no fim dos anos 80, período em que a banda necessitou se reinventar após a decadência do punk rock brasileiro. O baiano Alvin L. foi um dos compositores contatados para enviar faixas à banda, entre elas a colaboração com Renato Russo.
A composição é inspirada na obra Tender Is The Night (traduzida no Brasil como ‘Suave é a noite’ ou ‘Os Belos e Malditos’), do autor estadunidense F. Scott Fitzgerald, conhecido pelo clássico O Grande Gastby. A história traz uma crítica de Fitzgerald sobre a decadência do Sonho Americano e o fim dos anos 20, década conhecida como Era do Jazz.
Renato Russo usa a atmosfera de decadência desenhada pelo escritor como uma metáfora do próprio artista decadente. Na época, já um ídolo do rock nacional, Renato parecia negar o estereótipo dos ídolos como ‘divindades’: “Os últimos a sair / Os primeiros a morrer”, “De carne quase sempre / São anjos para alguém”, como o próprio escreveu. “Belos e Malditos” foi a última música do líder de Legião Urbana gravada por Capital Inicial.
“Na época, eu estava lendo ‘Os Belos e Malditos’, de Fitzgerald, e havia feito somente um versinho, ‘belos e malditos’. O Renato leu, achou legal e começou a escrever sem parar. Quando terminou, pôs a dedicatória ‘para o meu amigo Alvin’ e assinou. Acabei achando que não dava pra fazer uma música depois de ler a letra, mas acabei editando e no fim deu certo. Pouco tempo depois, o Capital fez uma outra melodia e me disse que queria gravá-la. Fiquei preocupado com o Renato ficar chateado, mas ele nem se preocupou. Disse: ‘Tá, nenhum problema pra mim. Você vai ganhar dinheiro com ela…’”, lembrou Alvin L. em entrevista ao portal de Bernardo Schimdt.