Como uma YouTuber virou dona dos hits do ano

O fenômeno Emilly Vick e a ascensão da “Família dos Rosas” mostram como o YouTube e o TikTok estão reinventando a lógica da indústria pop no Brasil

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O fenômeno Emilly Vick ajuda a explicar um movimento raro na indústria musical brasileira: o salto de uma criadora de conteúdo para o topo das paradas pop. Aos 19 anos, a mineira de Lagoa Santa começou sua trajetória no YouTube ainda criança, produzindo vídeos caseiros. Mas o que parecia apenas entretenimento infanto-juvenil virou uma engrenagem de produção multimídia, capaz de colocar músicas criadas dentro de sua comunidade digital entre os maiores sucessos do país. Segundo o TechTudo, Emilly foi a criadora mais assistida do YouTube em 2024, ultrapassando até mesmo a CazéTV, canal de Casimiro, fenômeno consolidado do streaming esportivo.

O passo seguinte foi natural: transformar a base gigantesca de seguidores em público fiel também para a música. Emilly reuniu parceiros próximos (a irmã Katlen, o namorado Leozin, além dos amigos Void Cauã e Robson Abreu) e montou a chamada “Família dos Rosas”. O grupo passou a lançar singles autorais que dialogam diretamente com seu público. Canções como Funk dos Rosa, DUAS PRINCESAS, Vingança e Amizade ou Paixão dominaram o Top 10 do pop no Brasil em 2025, dividindo espaço com nomes globais como Lady Gaga, Jennie (Blackpink), Luísa Sonza e Anitta.

O diferencial está na estratégia. Ao contrário da lógica tradicional da indústria fonográfica, Emilly não dependeu de gravadoras ou campanhas de marketing milionárias: seus vídeos no YouTube e TikTok funcionaram como o motor de divulgação. A estética caseira, os desafios e a linguagem direta criaram um ambiente de engajamento orgânico.

O resultado é que, quando as músicas foram lançadas, já existia uma comunidade pronta para consumi-las em massa. Nesse sentido, o caminho lembra fenômenos internacionais do pop digital, mas ganha um contorno único no Brasil, onde a música popular sempre foi atravessada pela relação entre comunidade, mídia e performance ao vivo.

Mais do que hits passageiros, a ascensão de Emilly Vick coloca em debate a transformação do ecossistema musical: a migração de criadores de conteúdo para protagonistas do mercado. Ao ultrapassar estrelas tradicionais e dividir paradas com ícones globais, a jovem mostra que a indústria não é mais movida apenas por rádios, TVs e grandes selos, mas também por influenciadores capazes de mobilizar milhões a partir de um quarto convertido em estúdio. A “Família dos Rosas” funciona como laboratório dessa mudança, em que internet e música se fundem para redefinir o que significa ser um artista pop no Brasil de hoje.