Deekapz cria própria rádio em diverso disco de estreia Deekapz FM

Em 14 faixas, duo paulista transporta os ouvintes para a era do rádio dos anos 2000

O disco de estreia de artistas que já fizeram carreira antes do lançamento carrega consigo muita expectativa. O duo paulista Deekapz sabia do impacto inicial que precisavam ter no primeiro disco, uma vez que já faziam sucesso em todo o país. Com isso veio a ideia de transformar o álbum em uma versão própria de uma rádio — afinal, qual a forma melhor de conhecer Matheus Henrique e Paulo Victor se não entendendo a origem do amor deles por música? Assim nasce o Deekapz FM.

Com 14 músicas, vinhetas e até uma participação de voz do duo no papel de ouvintes, o Deekapz FM é uma rádio distribuída nos streamings. Assim como qualquer outra estação, há uma preferência de gêneros musicais e ritmos, com o rap, funk, R&B, soul e as variações eletrônicas do hip-hop muito presentes. Entretanto, transformar o trabalho de estreia em uma mimetização do rádio fala muito sobre alcance e diversidade.

A imitação de uma rádio é de tanta qualidade que é possível esquecer que se trata de um álbum. O Deekapz fez um caminho verossímil para o ouvinte surfar na ideia de rádio. As sensações de conforto e de familiaridade são muito mais presentes do que uma noção nostálgica. A dupla não quer mostrar que antigamente era melhor, mas sim que é possível voltar no tempo sem negar o que há na contemporaneidade.

O duo claramente quis mostrar que era capaz de um pouco de tudo sem perder a identidade e a assinatura sonora. A execução é competente em todos os gêneros que se propõem a musicar — até por isso os artistas ficaram famosos produzindo para nomes que vão de Baco Exu do Blues a Rubel e chegam até as terras estrangeiras com a nova-iorquina Amaarae. No novo disco, o Deekapz produz coisas muito diferentes que acabam dialogando, seja pela proposta de rádio ou pelo formato como os DJs e produtores sempre dividem o protagonismo com os intérpretes das canções.

As participações, além de cruciais para contar a história do disco e levantar temas que interessam à dupla, são um toque especial. Seja com a presença dos mestres como Criolo, Nill, Fat Family e DJ Marky, com os parceiros de geração representados por nomes como Tuyo, Maffalda, Luccas Carlos, Urias e Nego Bala, ou as apostas representadas por Kaike, Mauí e Clara Lima, o Deekapz une gerações da música em um só lugar.

A dupla acaba entendendo que o papel dela está em ser meio. Porém, a ideia é se potencializar neste lugar e se tornar uma forma de envelopar e veicular mensagens de pessoas diversas e de formas distintas. O que importa no disco é que a música esteja no movimento de tocar o ouvinte. Seja para pensar ou apenas dançar, o duo quer alcançar acima de tudo.

Muito ligados na discussão da democratização do acesso à música, os dois artistas têm diversos lançamentos disponíveis gratuitamente em plataformas como o SoundCloud, mas elevam os argumentos quando trazem a rádio como tema do álbum. O Deekapz quer chegar longe como as ondas radiofônicas são capazes e ter a oportunidade de um trabalho curatorial de mostrar o que amam para o público.

O duo eletrônico não quer se encaixar ou se ater às amarras de gênero. A intenção com a música é compartilhar o amor pela mesma coisa com uma pista de dança. Atualmente, com o reconhecimento em festas por todo o Brasil, eles fazem no álbum o que sempre fizeram nas pick-ups: constroem uma narrativa. Contudo, agora de forma muito mais original e com o alcance que excede as paredes de uma boate e pode conquistar ouvidos muito distantes.