Drake vs. Universal: processo expõe disputa de poder no coração da indústria musical

Rapper acusa gravadora de favorecer Kendrick Lamar e levanta debate sobre os limites da autonomia artística diante das majors

O processo movido por Drake contra a Universal Music Group (UMG) trouxe à tona uma das disputas mais inesperadas da indústria fonográfica recente. O rapper acusa a maior gravadora do mundo de agir de forma desleal e até difamatória na divulgação de Not Like Us, hit de seu rival Kendrick Lamar, que acabou se tornando um dos maiores sucessos do ano. Segundo Drake, a UMG teria favorecido Kendrick de maneira intencional, prejudicando sua imagem pública e reforçando a narrativa construída pela faixa, que ultrapassou bilhões de streams e rendeu prêmios de peso.

A resposta veio diretamente de Lucian Grainge, CEO da UMG, que se manifestou pela primeira vez desde a abertura do processo. Em comunicado, ele negou qualquer envolvimento no lançamento ou aprovação do single, afirmando que nunca ouviu a música, nem viu a capa ou o videoclipe antes de sua divulgação. Para Grainge, a acusação de que teria autorizado ou influenciado a promoção da faixa é “infundada e ridícula”. Ele destacou que seu papel é estratégico e financeiro dentro da gravadora, não artístico.

A disputa expõe um ponto central do funcionamento da indústria musical: até onde vai a autonomia de um artista, mesmo quando ele está entre os maiores do mundo, diante do poder das gravadoras? Historicamente, conflitos entre artistas e suas próprias companhias sempre aconteceram, mas raramente com figuras tão consolidadas como Drake. A ação judicial mostra o desconforto crescente de artistas com a forma como grandes corporações conduzem a divulgação, distribuição e até a narrativa em torno de músicas que podem definir carreiras.

Se Drake vencer, o impacto pode ser enorme. A decisão abriria caminho para que outros artistas questionem judicialmente as gravadoras, alegando manipulação ou má-fé em processos de divulgação. Isso poderia fragilizar a confiança no modelo de negócios atual, em que o marketing e a promoção das músicas são controlados em grande parte pelas majors. Por outro lado, se a UMG prevalecer, a mensagem enviada ao mercado será de que, mesmo em disputas de gigantes, o poder das gravadoras segue maior que o dos artistas, reforçando a lógica de concentração da indústria.

No fim das contas, o processo de Drake contra a UMG não é apenas uma briga pessoal com Kendrick Lamar em pano de fundo. Ele escancara as tensões de um setor em transformação, no qual artistas têm mais ferramentas para se promover de forma independente, mas ainda dependem das engrenagens das grandes companhias para alcançar escala global. É um caso que pode se tornar divisor de águas, tanto para os artistas quanto para o futuro da indústria musical.