A indústria musical é um meio cheio de máximas. Por envolver muito sentimento, algumas crenças se cristalizam no imaginário popular e nunca mais saem. Uma das mais famosas é a maldição do segundo álbum. Ela geralmente ataca artistas e bandas que tiveram um sucesso muito grande de público e uma boa recepção com a crítica com o disco de estreia. Porém, não é necessariamente uma maldição, apenas um aglomerado de expectativas altas que recai sob um trabalho sucessor de uma grande obra. Portanto, quando um segundo álbum chama muita atenção, seja por qualidade ou alcance, é preciso dar às devidas láureas, afinal já é um feito por si só superar o que era esperado após um bom começo.
Contudo, o caso do Oasis é um dos mais marcantes quando o assunto é um segundo disco. A banda britânica havia chamado os olhos do mundo de volta para a Inglaterra, junto do que é conhecido como o movimento britpop, em 1994 com o excelente Definitely Maybe. Mas, foi com (What’s the Story) Morning Glory, lançado no dia 2 de outubro de 1995, que eles realmente se consolidaram. O segundo álbum fez um sucesso estrondoso e é uma das obras mais importantes da história da música britânica.
Com 12 faixas e pouco mais de 50 minutos que o Oasis mudou a própria trajetória e chegou ao ápice da música mundial. Noel e Liam Gallagher, respectivamente com 27 e 22 anos, fizeram um disco de hits, mas com a urgência que a juventude tem. Os dois entraram no estúdio ao lado do produtor Owen Morris logo após o sucesso do trabalho de estreia e fizeram um novo disco marcado por músicas que jamais sairiam do imaginário popular.
A sucessão de um álbum que havia trazido para o público faixas do calibre de Live Forever, Cigarettes & Alcohol, Supersonic e Rock’ n’ Roll Star era complicada. No entanto, foi no Morning Glory que Wonderwall e Don’t Look Back in Anger foram ouvidas pelo mundo uma primeira vez — e ainda por cima em sequência. Ou seja, os irmãos de Manchester não pareceram sofrer a pressão das expectativas, ou trabalharam muito bem com elas.
Foi com o (What’s the Story) Morning Glory que a banda se posicionou no status de estrelas do rock e também mostrou que poderiam ser muito mais do que apenas talentos de uma cena independente e muito interessante britânica. Este é, inclusive, um dos álbuns mais vendidos da história da música, com 22 milhões de cópias compradas mundialmente desde o lançamento nos anos 1990. Fato que gerou críticas na época por estarem sendo populares demais em linguagem e som.
Entretanto, o Oasis furar a bolha justamente neste álbum fala muito sobre o que a banda era e continuou sendo desde então. O Morning Glory é sobre o alcance. O disco é o que possibilitou chegar a mais pessoas, porque foi o que mostrou do que a banda era capaz. Os irmãos Gallagher vão do rock pesado às baladas sem nunca perderem o aspecto familiar que tem com o próprio público.
O Oasis é literalmente uma família, com questões e problemas de família, que chamou milhões de pessoas para perto justamente no (What’s the Story) Morning Glory. O álbum já era um clássico instantâneo em 1995 pelo sucesso que fez, mas, com 30 anos recém completos em 2025, se mostra uma obra que passou por todas as provas do tempo e, simples ou complicada, toca justamente onde a música é para tocar: no sentimento.
Se este ano os irmãos Gallagher estão esgotando shows em estádios no mundo inteiro, com fãs comprando linhas de roupas especiais na Adidas, esperando em filas quilométricas e chorando aos prantos enquanto cantam alguns dos sucessos favoritos ao vivo uma última vez, é porque (What’s the Story) Morning Glory deu ao Oasis o status de ídolos, para além de apenas fenômenos.
O mundo vive uma onda muito grande de nostalgia. O britpop está surfando essa onda, com o retorno de grupos como Blur, Travis, Supergrass e Pulp. Porém, apenas o Oasis teve o impacto internacional de grande magnitude com o retorno. E adivinha qual disco tem mais músicas entre as 23 que a banda tem apresentado na turnê? Isso mesmo, (What’s the Story) Morning Glory.