O lançamento do single e videoclipe “Terror em Barbacena”, da banda paulista de Thrash/Death Metal Faces of Death, é mais do que um exercício de brutalidade sonora: é um mergulho em uma das páginas mais sombrias da história brasileira. Inspirada no livro Holocausto Brasileiro, da jornalista Daniela Arbex, a faixa revisita os horrores do Hospital Psiquiátrico de Barbacena, em Minas Gerais, onde mais de 60 mil pessoas morreram vítimas de tortura, negligência e abandono.
Ao transformar essa tragédia em música extrema, o grupo reafirma uma das funções mais potentes do metal: denunciar, expor e reabrir debates que muitas vezes a sociedade prefere esquecer. Desde os anos 1980, bandas de Thrash e Death Metal colocam no centro de suas narrativas os horrores da guerra, os abusos de poder e as falhas institucionais. Com “Terror em Barbacena”, o Faces of Death atualiza essa tradição, mas com um recorte inteiramente brasileiro, transformando um trauma histórico em manifesto artístico.
A escolha não é apenas estética. O uso de riffs agressivos, pedal duplo veloz e uma produção que evoca o peso do death metal clássico dos anos 1990 cria um paralelo direto com a violência institucional retratada por Arbex em sua investigação. O videoclipe, feito com cenários digitais e inteligência artificial, potencializa o impacto ao criar imagens perturbadoras que dialogam com o tema da desumanização, reforçando o papel da arte como espaço de denúncia, memória e resistência.
Em um país marcado por crises políticas, desigualdade e violações recorrentes de direitos humanos, revisitar o Holocausto Brasileiro através do metal é também uma forma de questionar o presente. Ao trazer essa narrativa para o centro de sua música, o Faces of Death lembra que a história de Barbacena não pertence apenas ao passado: ela ecoa nos manicômios, presídios e periferias do Brasil contemporâneo. Assim, o single extrapola os limites do gênero e se posiciona como um ato de memória coletiva, em que a fúria do metal serve de catarse, denúncia e alerta.