Gilberto Gil fez de “Drão” uma demonstração da beleza do fim

Composta em 1982, a música reflete o término da união com Sandra Gadelha

Em 1982, Gilberto Gil lançou no disco Banda Um a canção “Drão”, um dos registros mais pessoais e emocionantes de sua trajetória. A música surgiu em um momento delicado: o fim de seu casamento com Sandra Gadelha, com quem esteve unido por 11 anos. O título da canção é uma homenagem a Sandra, cujo apelido, “Drão”, foi criado pela cantora Maria Bethânia a partir de “Sandrão”.

“Drão” é um prelúdio de despedida, em que Gilberto Gil tenta traduzir em versos o descompasso do amor e do desamor, pedindo à companheira que não encare o término do casamento como uma solução definitiva. Sobre o processo de criação, o próprio compositor relembra no livro Todas as Letras (Cia das Letras, 2000):

“Sua criação apresentou altos graus de dificuldades porque ela lidava com um assunto denso – o amor e o desamor, o rompimento, o final de um casamento; porque era uma canção para Sandra e para mim. ‘Como é que eu vou passar tantas coisas numa canção só?’, eu me perguntava”.

O casamento entre Gil e Sandra teve início em 1969, mesmo ano em que o casal partiu para o exílio em Londres, onde nasceu o primeiro filho, Pedro. De volta ao Brasil em 1972, tiveram Preta e Maria, nascidas em 1974 e 1976, respectivamente. A relação e a família se tornaram parte integrante da obra do cantor, e “Drão” permanece como um registro sensível desse período de sua vida.

Mais de quatro décadas depois, a canção continua viva nos palcos. Em 2024, durante a turnê Tempo Rei no Allianz Parque, em São Paulo, Preta Gil, que tinha “Drão” tatuado na mão, entoou a música ao lado do pai enquanto enfrentava um tratamento contra o câncer. A apresentação emocionou o público e não conteve as lágrimas de Gilberto Gil, reafirmando a força e a intimidade dessa composição histórica.