O sucesso avassalador de Guerreiras do K-Pop mostra como o mercado musical está atravessando um novo território. Dados da Luminate revelam que a trilha sonora do filme não só chegou ao Top 2 da Billboard 200, como foi responsável por 43% de todo o volume de streaming de K-pop nos Estados Unidos na semana de 7 de agosto. Em paralelo, a Chartmetric aponta que as faixas do grupo fictício Huntr/x ultrapassaram métricas de artistas reais, alcançando índices de popularidade normalmente reservados a gigantes como BTS e BLACKPINK.
Mais do que um fenômeno (o filme se tornou o mais visto da história da Netflix), o caso escancara uma mudança estrutural: personagens de um filme animado não apenas invadiram as paradas, como se consolidaram como atos viáveis de K-pop, tratados pelo público com a mesma devoção que idols de carne e osso. Isso só foi possível porque a Netflix reuniu produtores de elite como Teddy Park e EJAE, deu narrativa envolvente às personagens e lançou mão de uma base de fãs treinada a consumir K-pop em múltiplos formatos, de álbuns a webtoons, de games a séries.
O impacto imediato é inegável: Golden, carro-chefe da trilha, soma mais de 294 milhões de streams no Spotify e viralizou no TikTok com quase meio milhão de vídeos, superando até lançamentos reais de grupos consagrados. Mas os dados também expõem um paradoxo. Apesar da explosão de consumo, Guerreiras do K-Pop não gerou um “efeito halo” robusto para outros artistas do gênero. Ou seja, o público concentrou sua atenção no produto da Netflix, em vez de explorar o catálogo geral de K-pop.
Ainda assim, o modelo abre uma avenida de possibilidades. Se no passado bandas fictícias como Gorillaz ou Hannah Montana testaram as fronteiras entre realidade e ficção, agora o mercado vê uma escalada sem precedentes, com potencial de transformar cada filme, série ou game em incubadora de artistas que já nascem prontos para competir nas paradas globais. No curto prazo, isso garante novo fôlego ao K-pop em um momento de grandes retornos de BTS e BLACKPINK. No longo, pode remodelar a própria lógica da indústria musical, em que a ficção deixa de ser apoio narrativo e passa a ser motor central de consumo.