Era o auge da Beatlemania quando Ringo Starr foi internado por uma crise de amigdalite em Londres, no dia 03 de junho de 1964. O time entrou em pânico, pois no outro dia a banda estaria na estrada para a primeira turnê internacional dos Beatles sem um baterista. Para manter a turnê, o grupo chamou Jimmie Nicol, um baterista conhecido por um álbum de covers dos Beatles, para substituir Ringo até sua recuperação.
Nicol tocou em seis shows, foi embora na manhã do dia 15, sumindo do mapa da fama. Alguns anos depois, ele se referiria ao período como o início da sua decadência. A página do baterista na Wikipédia se resume a um parágrafo, referindo-se aos 13 dias em que foi um Beatle. Sua vida foi documentada pelo jornalista Jim Berkenstadt, que levou seis anos para documentar o enigma que foi Nicol na obra The Beatle Who Vanished (2013).
Nascido em 03 de agosto de 1939, James George Nicol era um garoto de Liverpool (a cidade natal dos Beatles) que se apaixonou pela bateria após escutar uma canção do Chuck Berry. Jimmie integrou, no fim dos anos 50, algumas bandas militares e se tornou conhecido no cenário musical de Londres pelo trabalho em grupos como Shubdubs e covers dos Beatles.
Em 1964, Jimmie Nicol era baterista de Georgie Fame & the Blues Flame e havia gravado um EP de covers intitulado Beatlemania (1963). Em junho, um dia antes do início da turnê Beatles ’64, Ringo Starr foi hospitalizado com amigdalite e a banda se encontrava sem baterista. Paul McCartney então telefonou para Georgie Fame para pedir o baterista de sua banda para substituir Ringo até sua recuperação.
No mesmo dia, 03 de junho, George Martin (produtor dos Beatles) telefonou para Jimmie e fez o convite, pedindo que comparecesse ao estúdio Abbey Road pela tarde. Nichol fez as malas, cortou o cabelo no estilo do grupo, foi ao estúdio e realizou o único ensaio com Paul McCartney, John Lennon e George Harrison antes de embarcar como Beatle substituto para a Dinamarca.
De acordo com Jim Berkenstadt, no livro The Vanished Beatle (2013), George Martin tinha plena noção de que Nichol era um dos – senão o único – bateristas que conseguiriam substituir Ringo Starr às prévias do primeiro show. Por conta de seu trabalho em Beatlemania (1963), Jimmie conhecia o estilo de Ringo, que considerava “diferenciado”.
O talento de Jimmie Nicol impressionou os três integrantes dos Beatles e os empresários. Lennon chegou a afirmar que o baterista era mais talentoso que o próprio Ringo, elogio que Nicol não considerou próprio posteriormente. Apesar de ser admirador do grupo na década de 60, ele não o poupou de críticas em entrevistas posteriores.
“Sem querer ser rude, Ringo Starr não é exatamente um baterista. Em algumas gravações, ele tocou muito bem, tem uma boa sensibilidade quando estão juntos. Mas os Beatles não eram a maior banda. Na verdade, como grupo, eles eram bem ruins. Eles não ligavam muito para shows ao vivo. E o equipamento não combinava com a acústica. Hoje em dia, você pode contratar uma empresa só para cuidar do som, mas eles não tinham isso”, declarou em entrevista a Evert Vermeer, do Beatles Unlimited, em 1984.
Nicol assumiu a bateria por seis shows em um período de, aproximadamente, 13 dias. O grupo passou pela Dinamarca, Holanda, Tailândia, Hong Kong e Austrália, onde os Beatles reencontraram Ringo e retomaram a formação clássica. Jimmie Nicol retornou para Londres na manhã do dia 15 de junho, sua partida registrada por uma foto clássica em que aparece solitário, com uma mochila dos Beatles ao lado.
Jimmie Nicol não voltou a se encontrar com os Beatles após os 13 dias como membro temporário, e seu legado na música não tomou o rumo que esperava. Com diversos problemas financeiros, o baterista tocou com outras bandas até 1967, quando o vício em drogas chegou ao ápice e o fez desistir da carreira de músico e tentar a vida como empreendedor.
O baterista, no entanto, causou uma boa impressão em Paul McCartney. Em 1967, enquanto o Beatle passeava com seu cachorro, Paul lembrou da frase clássica que Jimmie dizia sobre ser um Beatle: “It’s getting better” (Está melhorando, em tradução livre). Dessa frase nasceu Getting Better, faixa do Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.
Jim Berkenstadt conta que, atualmente, a principal interrogação no que diz à Jimmie Nicol é: onde ele está? Nem seu próprio filho sabe. “Ele pode estar vivendo aqui ou no exterior, ou pode estar morto. Não sei. Ele é um homem velho e leva a vida do jeito dele, e eu levo a minha. Tenho minha própria família, estou ocupado. Somos pai e filho, só isso”, contou Howie Nicol ao Daily Mail em abril deste ano. O jornalista cita em seu livro que alguns conhecidos acham que o baterista morreu em 1988, e não sabem dizer onde se encontra.