Abaixo do radar do circuito mainstream da música tem muita coisa boa sendo feita. Um nome que sempre chama atenção é da cantora baiana Josyara. Acompanhada de um inseparável violão, a artista lançou o álbum AVIA no primeiro semestre. Agora, ela vive os frutos de um meticuloso trabalho com a boa recepção do público, da crítica e o passeio pelo Brasil para espalhar ainda mais essas músicas.
O disco estreou nas plataformas no dia 11 de abril, mas, para chegar ao ponto de ser compartilhado com os ouvintes, passou por um longo processo de criação e aperfeiçoamento. “Eu sempre gosto de me instigar, esmiuçar, tocar a música de várias formas distintas. Nunca é apenas fazer, eu tenho que trabalhar até ficar madura”, explica Josyara, em entrevista ao Musicalidade. “Tive ideias que foram tomando rumos. As músicas pediram e eu deixei elas acontecerem”, complementa.
A cantora conta que tudo partiu de um momento de solitude, em que percebeu o que estava sentindo e endereçou estas sensações para o formato musical que queria. “Esse é um disco pessoal com a narrativa de alguém que vai percorrer por emoções”, afirma a cantora que classifica o trabalho como: “um disco sobre sentimento e troca humana”. Entre as 10 faixas do disco, os destaques ficam para a grandiosa “Corredeiras” e a boa parceria com Chico Chico em “Oasis (a duna e o vento)”.
“Essa é a primeira vez que eu falo tão abertamente sobre amor. Claro, em outros discos discuti isso de forma existencial, mas falar sobre a dor de ser deixada em uma festa, falar sobre raiva, mágoa e tratar disso com transparência, foi a primeira vez”, relata a artista que se deixou não apenas sentir como aproveitar o processo. “Para mim foi uma delícia fazer algo diferente dos outros repertórios”, conta.
Toda essa força que os sentimentos trazem foi traduzida para as canções. O álbum é musicalmente grandioso com arranjos que levam cordas e sopros e que ocupam todo o espaço em que tocam. “Os arranjos deste disco foram para trazer ambiências, sensações e intensidade de sentimento. É um álbum pulsante e fluido”, classifica Josyara.
Tudo foi musicalmente pensado para ter uma sincronia e, de alguma forma, um alicerce para o que seria dito no disco. “eu tinha na cabeça a ideia de fazer arranjos mais elaborados e clássicos para poder enfatizar a poesia. Foi um desejo que partiu desde do início dos esboços”, revela a artista. “Meu processo é natural, mecânico, intuitivo e inquieto. Eu preciso unir muito bem a música e a palavra”, acrescenta.
No entanto, o violão, instrumento primário de Josyara, permanece como protagonista das composições. “O violão é o grande regente. Eu até componho com outras ferramentas, como o beat, mas eu sempre volto para ele e ele me diz os caminhos. O violão é um parceiro de composição”, comenta. “O violão me diz as possibilidades que eu tenho para dizer o que quero. É uma troca muito grande. É onde tudo começa, mesmo que a ideia venha em um acapella, eu sempre volto para o violão. O violão sempre está e sempre esteve”, completa.
Depois da execução dessas ideias grandiosas para o trabalho de estúdio era preciso transformar a proposta para o ao vivo. Josyara conta que mesmo antes de disponibilizar o álbum nos streamings já pensava em como apresentá-lo para o público. Decidiu que tocaria o disco na íntegra e tentando respeitar o máximo que podia a ordem das músicas na tracklist. As adições são músicas que dialogam com as ideias, decididas em três atos para: “encontrar ligações e temperaturas”.
A artista já teve datas em algumas das principais capitais do Brasil e adaptou para qualquer tamanho de palco. Os sopros e as cordas viraram samples tocados ao vivo em uma bateria eletrônica e o sistema foi organizado para, mesmo pequeno, continuar transmitindo a capacidade de ocupar os espaços com música. “O trabalho é ir testando, porque é tocando no palco que a gente entende o que funciona e o que não funciona”, enxerga Josyara.
Porém, o que importa está lá. O sentimento da cantora está viajando o Brasil também fisicamente, afinal pelos streamings e até na rádio está fazendo um burburinho. A apresentação da artista é mais uma forma de entrar em contato com o longo trabalho e estudo que investiu no AVIA. “Esse formato traduz muito bem o disco”, garante.