A acordeonista, cantora e compositora baiana Lívia Mattos acaba de lançar Ndoukahakro, segundo single de seu próximo disco Verve. A faixa traz a participação da senegalesa Senny Camara e marca um encontro transatlântico entre Salvador, Tataguine (Senegal) e a aldeia que batiza a canção, localizada na Costa do Marfim. Mais do que uma colaboração musical, a obra se torna um diálogo de culturas que reafirma a busca da artista por novas experiências sonoras e afetivas.
Gravada em formato de power trio, com Lívia no acordeon e voz, Jefferson Babu na tuba e Rafael dos Santos na bateria, a canção mistura a musicalidade afro-baiana com referências do chabbi argelino e a poética de Camara, que incorpora a sonoridade ancestral da kora e improvisos vocais. O resultado é um tema que transita entre letra e instrumental, refletindo a assinatura criativa de Lívia, que constrói seus trabalhos na fronteira entre o popular, o experimental e o erudito.
A inspiração veio da experiência de Lívia em Ndoukahakro, aldeia marfinense onde se apresentou e foi surpreendida pela sensação de pertencimento. “Fui tomada por uma emoção daquelas que você não sabe de onde vem e que transborda. Chorei muito, sem entender bem por quê. Ao mesmo tempo em que sentia familiaridade com muitos lugares da Bahia, havia também uma distância – pela complexidade política, étnica, religiosa e linguística”, conta a artista.
Com esse lançamento, a artista não apenas antecipa seu terceiro álbum, mas também dá início a uma parceria artística que promete render novos frutos. “Essa estreia marca o início da relação entre duas mulheres instrumentistas e cantautoras – uma da orla de Salvador, outra da orla de Tataguine – que se encontram para falar dessa sensação paradoxal de familiaridade e distanciamento em relação aos lugares por onde passam. Com Senny, desde o primeiro encontro, senti uma total sensação de irmandade… bateu o santo mesmo, e sinto que ainda vamos criar muitas coisas juntas. Ndoukahakro é só o começo”.
Nascida em Salvador, Lívia Mattos já soma uma trajetória de destaque internacional. Além de ter integrado a banda de Chico César por oito anos, apresentou-se em festivais de referência como Womex (Espanha), Akkorden Festival Wien (Áustria) e Accordions Around the World (EUA). Reconhecida por sua versatilidade, já dividiu palcos e gravações com nomes como Rosa Passos, Ceumar, Badi Assad e Johnny Hooker. Premiada no Brasil e no exterior, acaba de retornar de uma turnê pelo Canadá, Bélgica, Dinamarca e França.
Com Ndoukahakro, Lívia reafirma seu papel como uma das artistas brasileiras que melhor traduzem a ideia de música como encontro de territórios e identidades. Um projeto que olha para o mundo sem perder suas raízes, abrindo caminhos para que a cultura brasileira dialogue de igual para igual com outras tradições.