Muito antes de o samba ganhar projeção nacional como um dos principais símbolos da identidade brasileira, os povos originários já participavam ativamente de sua formação. No sul da Bahia, a Aldeia Mãe Pataxó, localizada no território Barra Velha, preserva até hoje tradições percussivas e rítmicas que mostram como a música indígena foi essencial para moldar essa expressão cultural. Para os Pataxó, o samba não é apenas entretenimento: é um ritual sagrado, no qual fé, espiritualidade, memória e vida em comunidade se entrelaçam.
O projeto Marujos Pataxó dá continuidade a essa herança, reunindo jovens e mestres que transformam a música em uma poderosa ferramenta de resistência cultural. Suas canções falam da relação com a natureza, da espiritualidade e da luta por reconhecimento, mantendo vivas práticas que atravessam gerações. Ao lado da marujada indígena, surgem também os Marujinhos Pataxó, crianças que aprendem desde cedo a cantar, tocar e criar, reforçando que a tradição é uma ponte entre passado e futuro.
A relevância do grupo se conecta a uma história de dor e sobrevivência. A Aldeia Mãe foi palco do trágico massacre de 1951, conhecido como “O Fogo de 51”, que dispersou o povo Pataxó por diferentes regiões do país. Ainda assim, a cultura resistiu. Entre as vozes mais marcantes dessa trajetória está a da matriarca Maria Coruja, sobrevivente do massacre, rezadeira, compositora e ativista. Símbolo de força, ela representa a permanência da identidade Pataxó em meio a séculos de invasões, violência e preconceito.
Mais do que música, o Marujos Pataxó mostra ao Brasil que o samba indígena é um patrimônio vivo, que contribuiu de forma decisiva para a construção da cultura nacional.
Seus cantos, batuques e narrativas não apenas preservam a memória dos antepassados, mas também atualizam a linguagem musical, em diálogo com diferentes estilos e gerações. É um testemunho de que a música indígena não pertence ao passado: ela segue reinventando-se, afirmando sua presença e exigindo respeito ao território e à identidade Pataxó.
Assim, ao ecoar para além da aldeia, o som dos Marujos Pataxó não é apenas um espetáculo artístico — é um chamado à escuta, à valorização e ao reconhecimento das raízes indígenas na música brasileira.
