“Nação Tomada pelo Medo”: livro funciona como guia sensorial para os álbuns Kid A e Amnesiac

Obra de Thom Yorke e Stanley Donwood revela bastidores criativos e amplia a imersão na fase mais enigmática do Radiohead

Lançado no Brasil pela DarkSide, o livro Nação Tomada pelo Medo, escrito por Thom Yorke e ilustrado por Stanley Donwood, é mais do que uma coletânea de textos e imagens: trata-se de um complemento fundamental para quem deseja mergulhar na atmosfera de dois dos álbuns mais desafiadores e transformadores do Radiohead, Kid A (2000) e Amnesiac (2001).

Produzido a partir de anotações, cartas, listas, rabiscos e ilustrações criadas entre 1999 e 2000, o volume registra o estado emocional e artístico da dupla durante o período em que a banda se distanciava do rock convencional para abraçar paisagens sonoras eletrônicas, fragmentadas e inquietantes. Assim como as faixas desses discos — que oscilam entre momentos de beleza etérea e tensões apocalípticas —, o livro também transmite uma sensação de estranhamento, raiva e introspecção.

A prosa crua de Yorke e as imagens sombrias de Donwood funcionam como peças complementares ao enigma musical. Se Kid A e Amnesiac soam como a trilha sonora de um mundo em colapso, Nação Tomada pelo Medo oferece o registro visual e textual desse mesmo universo, revelando as angústias sobre vigilância, tecnologia e futuro incerto que permeavam a virada do milênio. Ao ler o livro enquanto se escuta as faixas, o público tem acesso a uma experiência quase sinestésica, em que palavras, imagens e sons se misturam em uma narrativa expandida.

Para os fãs que revisitarem esses álbuns hoje, o livro reforça a atualidade de seus temas. Questões como crise ambiental, isolamento e a corrosão da vida digital já estavam impressas tanto na música quanto nas páginas reunidas por Yorke e Donwood. Nesse sentido, Nação Tomada pelo Medo não apenas ilumina os bastidores da criação de Kid A e Amnesiac, como também reafirma a força visionária do Radiohead em antecipar medos e dilemas que continuam a ecoar décadas depois.