O adeus interminável do The Who: entre despedidas, retornos e incertezas sobre o futuro

Divergências entre Pete Townshend e Roger Daltrey revelam como o fim da banda pode nunca ser definitivo

O The Who iniciou neste mês sua turnê de despedida pela América do Norte. Aos 80 anos, Pete Townshend, e aos 81, Roger Daltrey voltaram a dividir o palco com a aura de lenda viva do rock, mas também com discursos que evidenciam divergências profundas sobre o futuro da banda. Em entrevistas separadas, publicadas pelo The New York Times, ficou claro que cada um projeta um fim diferente: para Townshend, é possível que a marca siga em formatos digitais ou mesmo em shows de holograma; já Daltrey prefere pensar em apresentações pontuais ou residências, sem declarar um fim definitivo.

Essa dualidade não é nova no rock. Desde 1982, o grupo já anunciou outras despedidas que nunca se concretizaram de forma absoluta, lembrando casos de bandas como Kiss, que realizou múltiplas turnês de “adeus” até se transformar em uma experiência com avatares digitais, e os Eagles, que, após a morte de Glenn Frey, chegaram a prometer não retornar, mas seguiram excursionando com o filho do guitarrista. O próprio The Who já conviveu com episódios curiosos, como a demissão e posterior “des-demissão” do baterista Zak Starkey, que ilustram bem a instabilidade dessas decisões.

O dilema sobre quando e como encerrar uma carreira também aparece em disputas de outros grupos. No Brasil, nomes como Legião Urbana e RPM viveram processos judiciais e conflitos internos que marcaram a gestão de seus legados, enquanto no exterior duplas como Simon & Garfunkel e Daryl Hall & John Oates alternaram separações turbulentas e reencontros ocasionais. São histórias que revelam como as pressões do mercado, as expectativas do público e as diferenças pessoais entre integrantes dificultam uma definição clara de fim.

Para além das brigas e incertezas, permanece o legado. Nos anos 1960 e 70, o The Who levou o rock a novos limites, transformando canções em narrativas cinematográficas que deram origem a um musical da Broadway (Tommy) e a um filme (Quadrophenia). As explosões sonoras de Townshend e o rugido dramático de Daltrey criaram uma estética que marcou gerações. Agora, às portas da despedida, a banda parece repetir um padrão comum no rock: prolongar o adeus para manter viva a chama do mito.