Pelados entende o timing da piada e do sentimento em novo disco Contato

No quinto disco, a banda paulistana traz, por meio do humor e da estética musical, profundidade para os assuntos mundanos e humanidade para o nonsense

O bom humor na música é um bom atrativo. Afinal, é sim possível levar um trabalho a sério sem necessariamente estar sério o tempo todo. Neste aspecto, a banda Pelados é um dos nomes mais interessantes da cena alternativa brasileira atual. O grupo apresenta o quinto disco de estúdio, Contato, e deixa claro que não é preciso entender para sentir e que é possível ver graça no mundo que nos cerca.

A escuta do novo disco traz uma primeira impressão de descontração. Um álbum com faixas intituladas Whatsapp 2, Modric, Star Trek: O Primeiro Contato e Instruções para Descongelar o Gilberto Gil no Espaço passa um ar de divertimento imediato. Porém, a exploração do que é absurdo e sem sentido esconde a potência do trabalho: a forma como ele fala de maneira simples sobre o que parece simples, mas pode ser bastante complexo.

A banda vai criando imagens quase visuais nas músicas, que carregam o público para uma viagem que toca sentimentos profundos em percepções mundanas. Desde a noção de que as grandes empresas estão tomando conta do mundo até a constatação de que é difícil resumir tudo o que querem dizer em poucas palavras de refrão, as músicas vão contando pequenas histórias relacionáveis e universais, capazes de alcançar emoções distantes.

Esse não parece um disco com pretensão de ser intelectual ou cult; é apenas a união das cinco perspectivas dos integrantes da banda, cada um conduzindo uma direção por canção. Essas faixas, em conjunto, bordam um conceito amplo que engloba um mundo de histórias e sentimentos que orbitam o trabalho.

Porém, se a intenção é usar essas anedotas para discutir os temas, a proposta é enxergar o mundo ao redor com bom humor. Seja com piadas ou nonsense, o álbum mostra que a banda permanece em um lugar de levar muito a sério o próprio ofício, sem nunca deixar de rir dos problemas e ironias que a vida carrega. Contato, tematicamente, pode ser colocado no espaço da máxima “rir para não chorar”.

O grupo trabalha para ser cômico sem ser bobo, mas, quando a ideia é a bobagem, eles vão até o fim, garantindo que não sejam a piada, e sim que todos possam rir juntos do que está sendo dito. Musicalmente, caminham para o lado oposto, experimentando com seriedade os limites impostos pelo rock em uma formação mais clássica — com voz, guitarra, baixo, bateria, teclados e sintetizadores.

Para além das histórias e significados, as músicas são interessantes de ouvir. O trabalho passeia por atmosferas distintas, é seco no rock quando precisa e etéreo, beirando o psicodélico, em outros momentos. Por mais que tenham a intenção de contar histórias e colocar sentimentos para fora, Pelados é uma banda indie que trabalhou muito bem dentro das sonoridades que transita para trazer algo original à discografia. Afinal de contas, se o público não entender exatamente a mensagem, pelo menos vai curtir a vibe das músicas.

Entretanto, a piada ser entendida ou não demanda não só esforço de quem faz, mas também atenção de quem ouve. A banda fez tudo que estava sob o próprio controle para entregar o melhor disco possível; resta ao público comprar a ideia. O inegável é que a Pelados mostra que é muito mais legal levar as coisas com bom humor para sobreviver no mundo em que vivemos.