O rock brasileiro dos anos 1970 nasceu no terreno fértil da contracultura, enquanto o país vivia sob o peso da censura e da repressão militar. Com letras cifradas e guitarras distorcidas, artistas do período encontraram na música um espaço de resistência e experimentação, mesclando referências internacionais ao que havia de mais rico na MPB. Cinco discos sintetizam essa ousadia: cada um não só definiu rumos sonoros, mas geraram impacto social e visual
“Krig‑ha, Bandolo!” – Raul Seixas (1973)
Primeiro álbum solo de Raul Seixas, “Krig‑ha, Bandolo!” mescla rock, blues e baião com irreverência poética. O disco traz sucessos como “Metamorfose Ambulante”, cuja performance registrada em vídeo mostra o cantor desafiando padrões comportamentais e defendendo a mudança constante. A importância do álbum transcende a música: a revista Rolling Stone Brasil o classificou como o 12.º melhor disco brasileiro da história, e canções como “Ouro de Tolo” e “Metamorfose Ambulante” figuram entre as maiores canções do país. O clipe de “Metamorfose Ambulante” — com Raul vestido de terno branco e discurso contra o conformismo — reforça a aura de “maluco beleza” que o consagrou.
“Secos & Molhados” – Secos & Molhados (1973)
https://www.youtube.com/watch?v=XOMAk_tEtNM
A estreia do trio Secos & Molhados combinou rock, MPB, poesia e teatralidade. Com maquiagem exuberante e figurinos andróginos, Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad lançaram um disco que vendeu mais de 1 milhão de cópias e abordava temas como liberdade de expressão, racismo e guerra. No clipe de “O Vira”, a banda dança coreografias inspiradas no folclore português enquanto canta versos nonsense — um símbolo da ousadia estética do grupo. Um artigo analítico destaca que canções como “Sangue Latino”, “O Vira” e “Rosa de Hiroshima” se tornaram “instant classics”, e que o grupo influenciou gerações ao desafiar normas de gênero e performance durante a ditadura.
“Fruto Proibido” – Rita Lee & Tutti Frutti (1975)
https://www.youtube.com/watch?v=gUvA5MOIZ1k
Após sair dos Mutantes, Rita Lee firmou‑se como ícone do rock nacional com “Fruto Proibido”. O álbum, considerado um marco do gênero e frequentemente apontado como sua obra-prima, vendeu mais de 700 mil cópias e rendeu à cantora o título de “Rainha do Rock Brasileiro”. Entre os destaques está “Ovelha Negra”, cuja letra autobiográfica — “Levava uma vida sossegada / gostava de sombra e água fresca…” — virou hino de autoafirmação para jovens brasileiros. O vídeo original de 1975 captura Rita com cabelos vermelhos e expressão desafiadora, personificando a rebeldia feminina em um universo dominado por homens.
“Casa das Máquinas” – Casa das Máquinas (1974)
Formada por músicos que buscavam um caminho menos comercial, a banda Casa das Máquinas lançou em 1974 um álbum homônimo pautado pelo hard rock. A biografia do grupo no Progarchives descreve esse disco de estreia como “plain old hard rock”, com guitarras pesadas e arranjos complexos; o álbum seguinte, “Lar de Maravilhas”, seria considerado um clássico do rock progressivo nacional. A faixa “A natureza”, presente no primeiro disco, ganhou um vídeo que sintetiza a energia crua da banda, com riffs marcantes e vocais intensos — mostrando que o rock brasileiro também podia flertar com o heavy e o prog sem perder apelo popular.
“Mutantes e Seus Cometas no País do Baurets” – Os Mutantes (1972)
https://www.youtube.com/watch?v=1QJTy9foAE
Quinto álbum dos Mutantes, o disco mistura psicodelia, rock progressivo e MPB e marca a última participação de Rita Lee com a banda. A canção “Balada do Louco” tornou‑se o grande destaque: em uma crítica do The Guardian sobre a reunião do grupo, a música é comparada a “Hey Jude” dos Beatles, enquanto “Ando Meio Desligado” é descrita como “tão psicodélica quanto ‘Eight Miles High’”. O vídeo de “Balada do Louco” mostra Arnaldo Baptista e Rita Lee cantando sobre a loucura como forma de liberdade, reforçando a mensagem libertária do Tropicália.