A história da música popular está cheia de covers. Eles podem nascer como homenagens sinceras ou como experimentações sonoras, mas sempre carregam um risco: o de tocar – no bom ou no mau sentido – a sensibilidade dos autores originais. Como mostrou o ótimo site Tenho Mais Discos que Amigos, nem sempre a reação é de aplauso.
Um dos exemplos mais célebres é o de David Bowie, que, ao ouvir a versão de Barbra Streisand para “Life on Mars?”, não poupou palavras: “Desculpe, Barb, mas ficou horrível”.
A sinceridade ácida do cantor mostra como até mesmo uma das maiores vozes da música mundial pode falhar quando desconectada da essência da composição. Situação semelhante aconteceu com o ex-líder dos Sex Pistols, John Lydon, que criticou duramente a leitura de “Anarchy in the U.K.” feita pelo Mötley Crüe. Para ele, a banda nem sequer dominava a letra original, “perdendo o significado” da canção.
Prince, por sua vez, foi ainda mais contundente ao desaprovar o cover de “Kiss” gravado pelo Maroon 5. Para o artista, a música deveria ser reinventada e não apenas reproduzida. “Arte é construir uma nova base, não apenas acrescentar algo sobre o que já existe”, afirmou, resumindo sua filosofia criativa. Já George Harrison, além de se incomodar com a interpretação de Frank Sinatra para “Something”, ainda viu sua canção ser creditada erroneamente a Lennon e McCartney, um detalhe que gerou frustração adicional.
Mas nem sempre a resposta é negativa. Há casos em que a releitura ganha tanta força que chega a emocionar o autor. Foi o que aconteceu quando Johnny Cash interpretou “Hurt”, do Nine Inch Nails. Trent Reznor, compositor da faixa, declarou que sentiu como se a música tivesse deixado de ser sua para se tornar definitivamente de Cash. Outro exemplo marcante foi Dolly Parton, surpreendida com a grandiosidade da versão de Whitney Houston para “I Will Always Love You”, que transformou uma canção country em um dos maiores hinos pop de todos os tempos.
Na música latina, o fenômeno também se repete. Alejandro Sanz, longe de se incomodar, demonstrou entusiasmo ao ouvir a versão em pagode de “Corazón Partío” feita pelo grupo Menos é Mais. Para ele, a releitura não apenas respeitou a essência da canção, mas a expandiu, levando-a a novos públicos e contextos culturais.
Esses episódios mostram como o ato de regravar uma música é sempre um diálogo entre gerações, gêneros e sensibilidades. Em alguns casos, o cover amplia o legado da obra e emociona até o criador. Em outros, gera rejeição, por soar descolado da intenção original. No fundo, a reação dos artistas deixa claro que a música é mais do que notas e letras: ela carrega identidade, memória e emoção.