Quem é dona do nome Apollonia: a atriz ou o espólio de Prince?

Disputa judicial reacende debate sobre identidade artística e herança cultural

O processo aberto por Apollonia Kotero contra o espólio de Prince levanta uma questão delicada que mistura identidade artística, memória afetiva e interesses milionários. Kotero, atriz e cantora que se consagrou em Purple Rain (1984), afirma que o nome Apollonia é inseparável de sua trajetória, usado com o incentivo do próprio Prince e associado a mais de 40 anos de carreira. Sua ação sustenta que, desde então, ela lançou projetos, cantou em faixas icônicas como Take Me With U e até coescreveu Manic Monday, das Bangles, sempre sob esse nome. Para sua defesa, é como se a marca tivesse deixado de ser apenas um personagem para se tornar sua identidade profissional legítima.

O espólio de Prince, por outro lado, classifica o processo como “frívolo” e “infundado”. Para a Paisley Park Enterprises, que administra os bens e o legado do artista, Apollonia é uma criação de Prince, concebida para o filme Purple Rain, e portanto faz parte do patrimônio do músico. A empresa admite nunca ter proibido Kotero de usar o nome em sua carreira, mas contesta o fato de ela tentar registrá-lo como marca própria, alegando que esse direito não pertence a ela. O argumento reforça a ideia de que cabe ao espólio gerir todos os símbolos associados ao universo de Prince, para preservar e capitalizar seu legado.

O cerne da disputa vai além da letra fria da lei: trata-se de quem pode reivindicar legitimidade sobre um nome que nasceu da mente criativa de Prince, mas que se tornou a face pública de Kotero durante décadas. De um lado, está a noção de continuidade cultural e reconhecimento do público, que associa “Apollonia” à atriz muito mais do que a uma marca empresarial. Do outro, está a visão de que cada peça do universo criado por Prince deve ser administrada de forma centralizada, como parte de um patrimônio coletivo e inalienável.

Esse caso não é apenas sobre um nome, mas sobre os limites entre criação artística e identidade pessoal, especialmente quando o criador já não está vivo para arbitrar a questão. O desfecho pode criar precedente em disputas semelhantes, definindo se nomes artísticos concedidos em contextos específicos podem ser apropriados pelos intérpretes ou se sempre pertencerão aos espólios que zelam pela herança de grandes ícones. É uma batalha que mostra como, mesmo depois da morte, Prince continua a provocar debates intensos sobre controle, arte e propriedade cultural.

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