O Spotify anunciou recentemente uma integração mais profunda com o Instagram, trazendo pré-visualizações em áudio e compartilhamento em tempo real. Agora, ao postar uma música nos Stories, os usuários podem incluir um trecho sonoro que toca automaticamente. A plataforma também permite abrir a faixa diretamente no Spotify ou ver em quais Reels a canção foi usada. Além disso, o recurso de Notes ganhou integração: amigos podem acompanhar em tempo real o que está sendo ouvido, com atualização automática a cada faixa. A estratégia mira diretamente o público do TikTok, que se tornou a principal força de descoberta musical global, e tenta transformar o Instagram em uma ponte para o Spotify, convertendo curiosidade em novos ouvintes e potenciais assinantes.
Mas, ao mesmo tempo em que aposta em recursos sociais para impulsionar descobertas, a empresa enfrenta uma crise em sua frente publicitária. Como mostrou o Business Insider, a área de venda de anúncios está “patinando”. O CEO Daniel Ek admitiu que as metas estão bem abaixo do esperado: enquanto o objetivo era que 20% da receita viesse de publicidade, o índice real não passa de 10%. O problema se agravou após a saída do vice-presidente global de anúncios, Lee Brown, e reforçou a percepção do mercado de que a estratégia da empresa tem sido “confusa” e cheia de mudanças de rumo, especialmente no campo de podcasts e vídeo.
Essa contradição expõe o dilema central do Spotify: depender quase exclusivamente das assinaturas premium. O modelo de anúncios, embora importante para atrair novos ouvintes via versão gratuita, nunca se consolidou como pilar de receita. E isso gera atrito também com artistas e gravadoras, que veem a remuneração pela camada gratuita como baixa demais. Ao mesmo tempo, marcas resistem a investir em anúncios que, na prática, servem para “irritar” o ouvinte até que ele pague pelo premium — uma proposta pouco atraente do ponto de vista de marketing.
No futuro próximo, o Spotify terá de equilibrar essas duas frentes. Por um lado, precisa mostrar inovação real no engajamento social, competindo com TikTok e fortalecendo parcerias de descoberta musical. Por outro, terá de convencer anunciantes de que é um espaço relevante para narrativas e experiências publicitárias, e não apenas um “meio-termo” até o usuário pagar pelo serviço. A disputa pela atenção e pelo bolso do ouvinte continua, e a forma como o Spotify resolver esse impasse pode definir seu papel na música digital nos próximos anos.